31 anos sem Kurt Cobain: o mistério que nunca morreu

Entre teorias conspiratórias e investigação policial, morte do líder da banda Nirvana ainda desperta curiosidades.
31 anos sem Kurt Cobain: o mistério que nunca morreu
Kurt Cobain morreu no dia 5 de abril de 1994, e o seu corpo foi descoberto 3 dias depois na pópria casa (Foto: Divulgação)

Seattle, 5 de abril de 1994. O corpo de Kurt Cobain, vocalista e guitarrista da banda Nirvana, é encontrado três dias depois em sua residência no número 171 da Lake Washington Boulevard. A cena, conforme relatórios da polícia local, indicava suicídio: uma espingarda sobre o peito, um ferimento fatal na cabeça e uma nota deixada próxima ao corpo.

Mas a investigação que parecia encerrada ali ganhou novas camadas nas semanas seguintes. Três décadas depois, o caso ainda alimenta debates e desconfianças, puxados por lacunas que nunca foram completamente preenchidas.

Foi um eletricista, chamado para instalar um sistema de segurança, quem encontrou o corpo de Cobain no greenhouse de sua residência na Lake Washington Boulevard. A cena foi registrada em vídeo por Richard Lee, jornalista da TV pública de Seattle, que logo lançaria a série “Kurt Cobain Was Murdered”. Nas imagens, a ausência quase total de sangue intriga: como um tiro de espingarda na cabeça não deixou um rastro mais evidente?

Lee não foi o único a questionar. Tom Grant, investigador particular contratado pela própria Courtney Love após o desaparecimento de Cobain de uma clínica de reabilitação, tornou-se a principal voz contrária à narrativa oficial. Grant estava a serviço de Love quando o corpo foi encontrado e, desde então, reuniu provas, gravações e argumentos que sustentam sua hipótese: Kurt Cobain foi assassinado.

A primeira chamada

Kurt havia desaparecido de uma clínica de reabilitação pouco antes. Courtney Love, sua esposa, contratou o detetive particular Tom Grant para encontrá-lo. Ele ainda estava em serviço quando o corpo foi descoberto. Desde então, Grant se dedica a provar que o que aconteceu na casa de Cobain não foi um suicídio.

Entre suas evidências estão cópias da nota encontrada na cena, ligações gravadas com Courtney e detalhes do uso do cartão de crédito de Kurt – que teria sido movimentado mesmo após a data estimada de sua morte. O cartão, segundo Grant, não estava entre os itens encontrados com o corpo.

A substância no sangue

Outro ponto-chave da teoria de Grant está nos níveis de heroína encontrados no corpo de Cobain. De acordo com investigações jornalísticas, a concentração da substância seria três vezes maior do que o necessário para matar um usuário experiente. Grant sugere que, sob efeito dessa dose, seria improvável que Cobain tivesse força ou coordenação para acionar o gatilho da espingarda.

A controvérsia levou ao envolvimento de especialistas e legistas, que chegaram a conclusões divergentes. Uns disseram ser possível; outros, inconclusivo. O fato é que o laudo oficial nunca foi detalhadamente divulgado pelas autoridades.

A carta e o rodapé

Outro elemento central é a nota. Para Grant, o texto sugere uma aposentadoria e não uma despedida definitiva. Ele afirma que o rodapé da carta — as últimas frases mais diretamente ligadas à ideia de suicídio — teria sido adicionado por outra pessoa. Peritos em caligrafia divergiram ao longo dos anos. Parte apontou semelhanças com a letra de Cobain; outra parte alegou inconsistência ou falta de base para uma conclusão, já que os documentos estudados são apenas cópias.

A ausência de sangue

Logo após a morte, um jornalista independente chamado Richard Lee iniciou uma investigação paralela. Em sua série televisiva “Kurt Cobain Was Murdered”, ele mostrou imagens do local gravadas em 8 de abril. No vídeo, a cena aparenta estar muito menos sangrenta do que se esperaria diante de um ferimento como o descrito pela polícia. Isso levantou suspeitas sobre a trajetória do tiro e a veracidade do relato oficial. Até hoje, Lee mantém uma campanha ativa questionando a versão policial.

O bilhete

Enquanto trabalhava para Courtney Love, o investigador particular Tom Grant teve acesso ao bilhete supostamente deixado por Kurt Cobain. Ele usou sua máquina de fax para fazer uma cópia, que acabou sendo amplamente disseminada desde então.

Após analisar o conteúdo, Grant concluiu que a carta parecia mais um comunicado de aposentadoria direcionado aos fãs do que uma despedida suicida. Sabe-se que Cobain vinha considerando seriamente a ideia de encerrar as atividades do Nirvana ou, ao menos, tirar um longo hiato. Grant afirma que apenas as poucas linhas adicionadas no rodapé soam como uma nota de suicídio — e são justamente essas que ele contesta.

Embora concorde com os laudos policiais que atribuem o restante da carta à caligrafia de Kurt, ele alega que o rodapé apresenta traços diferentes, o que indicaria uma possível falsificação feita por alguém interessado em simular um suicídio.

Segundo Grant, peritos em caligrafia consultados por ele corroboram essa hipótese. No entanto, a análise não é unânime. Quando o programa Dateline NBC enviou uma cópia da carta para quatro especialistas distintos, apenas um afirmou com certeza que o texto era de Cobain; os outros três consideraram a amostra inconclusiva. Um especialista entrevistado pela série Unsolved Mysteries também destacou a dificuldade de se chegar a uma conclusão definitiva, já que o exame foi feito com base em uma fotocópia e não no original.

O fato de a polícia não ter dado seguimento a essas inconsistências é mais um dos muitos pontos mal explicados do caso. Em vez de aprofundar a investigação, as autoridades encerraram rapidamente o inquérito como “suicídio”.

O caso arquivado — mas nunca enterrado

Em 2014, no aniversário de 20 anos da morte, o Departamento de Polícia de Seattle reabriu brevemente o caso para revisão. Conclusão: nada novo foi encontrado. As autoridades mantiveram a classificação como suicídio. No entanto, para Tom Grant, Richard Lee e uma legião de fãs e curiosos, a decisão continua deixando perguntas sem resposta.

As peças estão todas aí: um corpo, uma carta, substâncias químicas, um cartão desaparecido, gravações telefônicas e uma investigação que nunca chegou a explorar as possibilidades além da superfície.

Enquanto isso, Kurt descansa. Mas o caso, não.