Em um avanço histórico para a saúde pública brasileira, a Anvisa aprovou o registro definitivo da primeira vacina contra a chikungunya. O imunizante é fruto de uma parceria entre o Instituto Butantan, em São Paulo, e a farmacêutica franco-austríaca Valneva, e teve sua autorização publicada nesta segunda-feira (14), no Diário Oficial da União.
Com a decisão, o Brasil se torna oficialmente o primeiro país da América Latina a registrar um imunizante contra essa arbovirose negligenciada, que só em 2024 atingiu 620 mil pessoas no mundo. O vírus é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, o mesmo vetor da dengue e do zika vírus — vilões conhecidos em território nacional.
A vacina foi aprovada para aplicação em adultos com 18 anos ou mais e poderá, em breve, integrar a estratégia do Sistema Único de Saúde (SUS), a depender da análise de órgãos técnicos como a CONITEC e o Programa Nacional de Imunizações (PNI). A expectativa é que o imunizante seja usado inicialmente em regiões com maior incidência da doença, como parte de um plano de vacinação estratégico.
“A partir da aprovação pela CONITEC, a vacina poderá ser fornecida estrategicamente. É possível que o plano seja priorizar os residentes de regiões endêmicas”, explicou Esper Kallás, diretor do Instituto Butantan.
Eficácia promissora
Os dados que embasaram a aprovação são animadores. Publicado na revista The Lancet Infectious Diseases, o estudo clínico de fase 3 demonstrou uma resposta imunológica robusta entre os adolescentes brasileiros testados. Após uma única dose, foi detectada a presença de anticorpos neutralizantes em 100% dos voluntários que já haviam tido contato com o vírus e em 98,8% dos que nunca foram expostos. Seis meses depois, a proteção foi mantida em mais de 99% dos participantes.
Os efeitos colaterais relatados foram, em sua maioria, leves a moderados, como febre, dor no corpo, fadiga e cefaleia — quadro semelhante ao de outras vacinas amplamente utilizadas.
Versão nacional em desenvolvimento
Enquanto comemora o registro definitivo, o Instituto Butantan já trabalha em uma versão nacional da vacina, adaptada à realidade brasileira. A ideia é usar componentes produzidos no país, o que facilitará a futura incorporação do imunizante ao SUS e reduzirá os custos de produção. Essa nova formulação ainda passará por etapas técnicas e regulatórias.
Chikungunya: a doença que não vai embora tão cedo
Embora muitas vezes confundida com outras arboviroses, a chikungunya tem um perfil clínico que pode ser devastador. Além de febre alta, manchas vermelhas na pele, dor muscular e cefaleia, o principal alerta vai para as dores articulares intensas, que podem se tornar crônicas e durar anos. Em casos mais graves, a doença também pode levar à morte.
Apesar de existirem casos assintomáticos, o impacto nas regiões afetadas é severo, especialmente entre pessoas idosas ou com condições de saúde preexistentes. Brasil, Paraguai, Argentina e Bolívia lideram o número de infecções em 2024.
Com a aprovação da vacina, abre-se uma nova frente de combate a esse problema de saúde pública que, até aqui, não contava com nenhuma forma de imunização.
Com informações da TV Globo e g1 SP