O Vaticano anunciou nesta quinta-feira (8) a eleição do cardeal norte-americano Robert Francis Prevost como novo líder da Igreja Católica. Aos 69 anos, o religioso assume o papado com o nome de Leão XIV, tornando-se o primeiro pontífice dos Estados Unidos e o 267º sucessor de São Pedro.
Em uma parte do seu primeiro discurso, na sacada da Basílica de São Pedro, trocou o italiano para o espanhol e agradeceu a sua diocese em Chiclayo, no Peru, onde passou boa parte de sua carreira eclesiástica.
“Sou um filho de Santo Agostinho. Um agostiniano.”
Mais que uma simples referência biográfica, a afirmação aponta para o coração espiritual e teológico de Prevost. A Ordem de Santo Agostinho, à qual ele pertence desde 1985, tem como pilares o pensamento cristão clássico, a interioridade, o diálogo com a razão e a busca por uma Igreja mais comunitária e espiritualizada — características que podem indicar o tom de seu pontificado.
Agostinho de Hipona, pai da Igreja e um dos maiores pensadores do cristianismo, inspirou gerações com a defesa da humildade como força de transformação, a centralidade da consciência e a tensão constante entre pecado e graça. Assumir-se como “filho” dessa tradição é mais que reverência: é uma espécie de manifesto.
Durante seu discurso, Leão XIV homenageou o Papa Francisco, a quem sucede, e falou sobre paz, justiça social, diálogo inter-religioso e a necessidade de manter viva a fidelidade a Cristo. Alternando entre italiano e espanhol — idioma herdado de sua trajetória no Peru —, ele agradeceu à diocese de Chiclayo, onde atuou por quase uma década e foi ordenado bispo.
Prevost também traz consigo uma sólida formação intelectual. Doutor em direito canônico, estudou na Universidade de São Tomás de Aquino, em Roma, e foi prefeito do Dicastério para os Bispos, órgão responsável pela nomeação episcopal. É descrito como discreto, avesso aos holofotes, mas firme em decisões doutrinárias.
Com pelo menos 89 votos entre os 133 cardeais do Conclave, Leão XIV assume o comando da Igreja Católica num momento de forte transformação — entre crises internas, exigência por transparência e um cenário global de tensões sociais e espirituais.
Ao concluir sua saudação inicial, o novo Papa conduziu a multidão reunida na Praça São Pedro à oração da Ave Maria. Pouco antes, havia deixado clara a essência que carrega:
“O pecado não prevalecerá. Estamos todos nas mãos de Deus.”
E nas pegadas de Agostinho, o novo Papa parece sugerir: é da inquietude da alma que virá a esperança para renovar a fé.