Consumo de energéticos cresce entre jovens e acende alerta sobre riscos à saúde

O dado lança luz sobre um hábito crescente, muitas vezes associado à vida noturna e ao consumo simultâneo de álcool.
Consumo de energéticos cresce entre jovens e acende alerta médico sobre riscos à saúde
A principal substância presente nessas bebidas é a cafeína, que tem efeito estimulante quase imediato (Foto: Reprodução)

Um levantamento recente revelou que 22% dos brasileiros com até 29 anos, especialmente das classes C, D e E, consomem bebidas energéticas fora de casa, geralmente adquiridas em supermercados, adegas ou por meio de vendedores ambulantes. O dado lança luz sobre um hábito crescente entre os jovens, muitas vezes associado à vida noturna e ao consumo simultâneo de álcool, o que tem preocupado especialistas da área médica.

A faxineira Valeska Nascimento, de 28 anos, afirma que o energético é o “combustível” das festas que frequenta. “Tomo a noite inteira, até de manhã. Você aguenta dançar, curtir, ficar em pé, sem parar”, diz. A rotina de consumo entre os jovens, porém, ultrapassa o simples hábito recreativo e passa a representar um risco quando combinado com bebidas alcoólicas.

Mistura perigosa

Em Heliópolis, uma das maiores favelas de São Paulo, o líder comunitário Marcivan Barreto observa o fenômeno de perto. “Com a onda dos bailes, é comum ver adolescente misturando energético com bebida alcoólica. É uma mistura perigosa, mas virou moda.”

A principal substância presente nessas bebidas é a cafeína, que tem efeito estimulante quase imediato. Em grandes quantidades, pode provocar alterações no sistema cardiovascular, como palpitações, aumento da pressão arterial e arritmias. O consumo excessivo também afeta o sistema nervoso central.

“O uso esporádico e moderado pode não ser um problema, mas o consumo em excesso, principalmente com álcool, é preocupante”, alerta o cardiologista Rodrigo Bougleux, presidente do Grupo de Estudos em Cardiologia do Esporte da Sociedade Brasileira de Cardiologia (GECESP).

Caso de internação

Um dos episódios mais recentes de complicações por excesso de energético ganhou repercussão nacional em fevereiro, quando o ator e empresário Rafael Zulu precisou ser internado após ingerir cerca de 2,5 litros da bebida misturada com gin. “Eu e minha esposa passamos o dia todo bebendo. Horas depois, comecei a sentir o coração acelerado e fui para o hospital”, relatou.

Zulu foi diagnosticado com fibrilação atrial, uma condição em que o coração perde o ritmo natural de batimento. Embora o ator não tenha histórico cardíaco, ele precisou passar quatro dias internado. “Fiz todos os exames e estou bem, mas aprendi a lição. Exagerei e tive um susto enorme.”

Segundo médicos, a fibrilação atrial, quando não controlada, pode evoluir para quadros graves, como trombose e acidente vascular cerebral (AVC).

O que diz a indústria

A Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas Não Alcoólicas (ABIR) afirma que os energéticos são regulamentados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e vendidos legalmente em mais de 175 países. A entidade destaca que os rótulos trazem advertências obrigatórias, como:

  • “Crianças, gestantes, nutrizes, idosos e portadores de enfermidades devem consultar o médico antes de consumir o produto.”
  • “Não é recomendado o consumo com bebida alcoólica.”

Risco silencioso e crescente

Com a popularização dos bailes funk, festas open bar e eventos de longa duração, a combinação de energético com álcool virou um ritual comum para muitos jovens. No entanto, especialistas lembram que essa mistura mascara os efeitos do álcool, fazendo com que a pessoa beba mais e por mais tempo, o que pode levar a intoxicações, desidratação severa e, em casos extremos, até à morte.

A orientação de médicos e instituições de saúde é clara: moderação e atenção ao consumo. A cafeína, quando consumida em excesso, é tão perigosa quanto qualquer outra substância estimulante — especialmente quando aliada ao álcool.

Alerta necessário

Com o crescimento do consumo de energéticos no Brasil, especialmente entre jovens, cresce também a urgência de campanhas educativas que abordem os riscos reais e a banalização do uso. Para os especialistas, o debate deve ir além do rótulo e alcançar escolas, famílias e espaços de lazer.

Com informações do Fantástico