Afinal, dinheiro traz ou não felicidade? Especialistas comentam

O fator financeiro pode proporcionar conforto, segurança e liberdade, mas a relação com a felicidade não é linear.
Afinal, dinheiro traz ou não felicidade? Especialistas comentam
Questões relacionadas ao dinheiro geram muitos debates (Foto: Arte / Portal VB)

Um dito muito antigo transcendeu o tempo e até os dias atuais faz muitas pessoas refletirem a respeito. Afinal, dinheiro não traz felicidade mesmo? O tema gera debates, controvérsias, ponderações e afirmações taxativas.

A relação entre dinheiro e felicidade é uma pauta complexa e amplamente debatida em várias áreas, principalmente na psicologia. O fator financeiro pode proporcionar conforto, segurança e liberdade, mas a relação com a felicidade não é linear.

Conforme a Teoria da Autoeficácia, do psicólogo canadense Albert Bandura, o controle sobre a vida e a sensação de realização são mais importantes para a felicidade do que a riqueza.

Para o psicólogo húngaro-americano Mihaly Csikszentmihalyi, autor da Teoria do Fluxo, a felicidade vem da experiência na qual habilidades e desafios estão equilibrados.

Teorias científicas à parte, o Portal VB foi às ruas escutar quem realmente pode definir na prática esta relação intricada entre dinheiro e felicidade. A opiniões são distintas, mas é possível perceber que o fator financeiro é determinante na qualidade de vida das pessoas.

Silvia Rabelo, de 52 anos, é funcionária de uma rede de supermercados em São Luís, há três anos, e acredita que a felicidade não está totalmente ligada ao dinheiro, mas reforça a importância de ter a conta no azul para levar a vida sem maiores afetações mentais: “A falta de dinheiro mexe com a pessoa, certamente, e isso acaba afetando vários setores da nossa vida. Pode não ser 100% o caminho da felicidade, mas é bem perto disso. Ser feliz sem dinheiro é até possível, mas a gente mais sobrevive do que vive”, relatou.

A secretária administrativa Ana Rosa Soeiro, de 71 anos, recorreu a um ditado popular antigo para descrever seu pensamento a respeito do tema: “O importante é ter saúde. O resto a gente corre atrás”. No entanto, não deixou de frisar que o suporte financeiro faz a diferença no cotidiano: “Mas a gente também precisa de dinheiro, porque tudo tem um preço nessa vida, e não dá pra negar que é importante”, completou.

Ricardo Luís Neres é um eletricista de 42 anos, casado e pai de duas meninas, de 11 e 8 anos. Formado em letras, nunca conseguiu se estabilizar trabalhando na área que escolheu ao entrar na faculdade, e resolveu aperfeiçoar algumas aptidões para ganhar a vida.

Para completar a renda, Ricardo tira algumas horas do dia para trabalhar como motorista de aplicativo. “Não dá, a gente tem que se virar. Minha mulher fica preocupada, porque geralmente rodo à noite, mas fazer o que, né? Dizem que dinheiro não traz felicidade, manda buscar (risos), mas brincadeiras à parte, é melhor ter do que não ter. Faz uma diferença grande, e eu vou ser sincero que fico muito mal-humorado quando estou ‘liso’, diferentemente de quando tenho um dinheiro sobrando. Parece até um termômetro”, disse.

A psicóloga Natália Basileu conversou com a reportagem do Portal VB, e confirmou que o tema financeiro é constantemente levado às sessões pelos mais diversos tipos de pacientes. “Na clínica psicológica, questões econômicas frequentemente emergem como fonte de estresse, ansiedade e até depressão. Embora o dinheiro não garanta felicidade plena, ele é fundamental para garantir acesso a necessidades básicas e oportunidades que promovem bem-estar; como saúde, educação e lazer. Isso causa um impacto direto na qualidade de vida”, relatou.

Natália Basileu
Natália Basileu confirmou que o tema é constantemente levado às sessões (Foto: Divulgação)

Natália Basileu afirmou que a saúde financeira, geralmente, leva as pessoas a buscarem uma forma de conseguir um dinheiro extra. O esforço traz consequências que vão além das preocupações econômicas: “Muitas vezes, as dificuldades financeiras não surgem de forma explícita nas sessões, mas se manifestam de outras maneiras; como o excesso de trabalho para manter o padrão de vida, o que leva ao Burnout (exaustão física e emocional por estresse crônico no trabalho). Além disso, geram conflitos familiares sobre a administração do dinheiro, dependência econômica de um cônjuge e, mais recentemente, ansiedade ligada à comparação com padrões idealizados nas redes sociais, uma demanda muito presente atualmente”, frisou a psicóloga.

“Essas situações evidenciam o impacto indireto das finanças na saúde mental e nas relações pessoais. Contudo, mesmo com estabilidade financeira, muitos pacientes ainda sofrem emocionalmente, mostrando que o bem-estar vai além das questões econômicas”, completou Natália Basileu.

O Portal VB também conversou com a psicóloga Thaís Almeida, que tem uma resposta afirmativa sobre a questão de o dinheiro trazer felicidade. No entanto, faz algumas ponderações para evidenciar que a busca incessante por satisfação financeira pode levar a frustrações.

“É claro que sim. O dinheiro serve como reforçador ao facilitar o acesso a confortos e experiências, inclusive proporcionando saúde física e emocional. Porém, na clínica de psicologia percebe-se que uma busca excessiva por bens materiais como única ou principal fonte de felicidade tende a resultar em frustrações e angústias, comprometendo o bem-estar emocional”, ressaltou.

Thaís Almeida
Psicóloga Thaís Almeida detalhou sua percepção sobre o tema (Foto: Divulgação)