Uma nova pesquisa realizada pela Universidade de Bristol, no Reino Unido, desafia antigas interpretações sobre o casamento de William Shakespeare e Anne Hathaway. O estudo, conduzido pelo professor Matthew Steggle, aponta que o casal pode ter vivido junto em Londres entre 1600 e 1610 — contrariando a tese de que Shakespeare teria deixado a esposa para trás em Stratford-upon-Avon.
A descoberta é baseada na análise de uma carta acidentalmente preservada na encadernação de um livro datado de 1608, em Hereford, segundo a BBC. O documento é endereçado à “boa Sra. Shakespeare” e pede o pagamento de uma dívida envolvendo um menino órfão chamado John Butts.
Embora a carta tenha sido encontrada em 1978, a falta de identificação clara dos nomes e locais impediu sua associação direta a William Shakespeare. Agora, segundo Steggle, novas evidências indicam que o remetente se referia, de fato, ao dramaturgo.
O pesquisador destacou que havia poucos casais com o sobrenome Shakspaire (grafia da época) em Londres naquele período e que apenas William e Anne se encaixavam na descrição de moradores da região de Trinity Lane. A identificação do órfão John Butts também reforçou a conexão com o casal.
“Isso dobra o número de cartas conhecidas associadas a Shakespeare e sua família e revela um novo endereço e uma nova esfera de atividade do autor em Londres”, afirmou Steggle.
Além disso, se a anotação no verso da carta for mesmo uma resposta, pode ser o primeiro registro escrito atribuído a Anne Hathaway.
Repercussão entre escritores e estudiosos
A descoberta também reacendeu o debate sobre a forma como Anne Hathaway foi retratada ao longo dos séculos. Para a escritora Maggie O’Farrell, que explorou a relação dos dois em um romance ficcional, o novo documento oferece uma perspectiva diferente:
“Houve estudiosos que a chamaram de feia, analfabeta e interesseira, mas não há qualquer evidência para essas acusações. Este fragmento sugere que eles se amavam e, possivelmente, viveram juntos em Londres”, afirmou à BBC Radio 4.
A carta traz novas pistas sobre a vida pessoal de Shakespeare e sugere que a relação do casal foi mais próxima e duradoura do que os registros tradicionais indicavam.