Após 32 anos de escavações na antiga cidade de Betsaida, no Parque Jordão das Colinas de Golã, ao nordeste do Mar da Galileia, uma equipe da Universidade de Nebraska, em parceria com pesquisadores israelenses, desenterrou uma estrutura que pode estar entre os vestígios mais antigos de uma cidade hebraica: uma porta datada entre os séculos X e XI a.C., período tradicionalmente associado ao reinado do rei Davi.
A descoberta pode fornecer evidências arqueológicas que coincidem com relatos bíblicos, além de lançar nova luz sobre a organização política e religiosa da época. De acordo com os estudiosos, a porta fazia parte de uma muralha defensiva de um assentamento fortificado, erguido para proteger a cidade contra invasões — uma característica típica das comunidades da região durante a chamada era do Segundo Templo.
A professora Rami Arav, que lidera a escavação desde 1988, destacou a relevância da estrutura. Em entrevista ao The Jerusalem Post, ela explicou que a cidade era conhecida como Betsaida no período do Segundo Templo, mas, durante o Primeiro Templo, era chamada Zer, conforme descrito no Livro de Josué (19:35), que cita: “As cidades fortificadas eram Zidim, Zer, Hamate, Recate e Quinerete”.
Segundo os arqueólogos, trata-se da porta mais antiga já recuperada em cidades hebraicas. As ruínas ao seu redor indicam que Betsaida pode ter pertencido, na época, a um grupo arameu, e não necessariamente a um reino hebraico. Entre as evidências está uma figura do deus lunar na forma de touro, comum em cultos arameus do século XI a.C., esculpida em uma das pedras próximas à entrada.
A hipótese levanta questionamentos sobre a real extensão do domínio de Davi — que pode ter sido, mais do que um rei consolidado, um líder tribal entre diversas etnias da região.
Além da porta, a expedição revelou joias, utensílios e moedas raríssimas. Uma delas, datada de 35 a.C., comemora a visita de Cleópatra e Marco Antônio e é considerada peça única — apenas 12 exemplares semelhantes são conhecidos no mundo.
O local de escavação também abriga vestígios de um templo romano construído no século I d.C. pelo imperador Filipe, filho de Herodes, em homenagem a Júlia, filha de Augusto, consolidando a importância religiosa e histórica da região durante séculos, sobretudo para peregrinos cristãos.
A revelação coincide com outra descoberta recente feita em Jerusalém, nas proximidades da chamada Cidade de Davi: uma fortificação monumental de 3 mil anos. Segundo arqueólogos, ela corresponde ao “Milo”, citado no Primeiro Livro dos Reis (11:27) e no Livro de Samuel, como parte das defesas urbanas da antiga capital israelita.
Essas descobertas reforçam a importância da arqueologia bíblica no entendimento das raízes culturais e religiosas do Oriente Médio — e reacendem debates sobre a historicidade das narrativas do Antigo Testamento.
Com informações de Por La Nacion — Damasco