Jovens cientistas maranhenses usam robótica para proteger os oceanos

A iniciativa está alinhada à Década Oceânica, proposta pela Unesco, e ao tema “Submerged”.
Jovens cientistas maranhenses usam robótica para proteger os oceanos
Estudantes maranhenses contribuem para a Década do Oceano, por meio da robótica (Foto: Divulgação)

Centenas de estudantes maranhenses da Educação Básica passaram meses dedicados à pesquisa científica com uma questão fundamental em mente: como ajudar os profissionais que estudam e protegem os oceanos, promovendo saúde e sustentabilidade?

Com o aprendizado de robótica e um propósito definido, os alunos das escolas do Serviço Social da Indústria (Sesi-MA) e do Projeto Sesi Prototipando Sonhos se lançaram em um verdadeiro mergulho científico. Desde o monitoramento de espécies exóticas até a detecção de correntes de retorno e sinais que indicam a mortandade de peixes, nada escapou ao olhar atento desses jovens cientistas.

A iniciativa está alinhada à Década Oceânica, proposta pela Unesco, e ao tema “Submerged”, adotado nesta temporada do Torneio de Robótica pela organização norte-americana First. O desafio foi abraçado com entusiasmo pelos estudantes, e entre os dias 12 e 15 de março, seis equipes maranhenses representarão o estado na etapa nacional do Festival Sesi de Educação 2025, em Brasília.


O Maranhão e a conexão com os oceanos

Os desafios enfrentados pelos oceanos, como aquecimento global e poluição, não afetam apenas quem vive no litoral. O Maranhão possui a segunda maior faixa litorânea do Brasil, com aproximadamente 640 quilômetros de extensão, perdendo apenas para a Bahia. Apesar disso, dos 217 municípios do estado, pouco mais de 30 têm acesso direto ao mar.

Curiosamente, muitos dos competidores maranhenses de robótica nunca viram o oceano de perto. Isso, no entanto, não impediu que desenvolvessem projetos inovadores para ajudar na preservação marinha. A criatividade e o compromisso com a ciência superaram qualquer barreira geográfica.


Inovação vinda do interior

Mesmo sem contato direto com o mar, os estudantes do município de Tuntum desenvolveram uma cera biodegradável para proteger embarcações contra corrosão, feita com cera de abelha e óleo de coco babaçu. O produto visa aumentar a durabilidade de pequenas embarcações de pesca, oferecendo uma alternativa mais acessível e sustentável.

Estudantes contribuem para a Década do Oceano (Foto: Divulgação)

“Nós simulamos os efeitos da corrosão em laboratório para testar a eficiência da nossa cera, que se mostrou mais viável economicamente do que as opções comerciais disponíveis”, explicou Ana Júlia Torres, 13 anos, do Colégio Militar.

Já a equipe Ecoje Sal, de Santo Antônio dos Lopes, criou um dispositivo para detectar correntes de retorno, um dos principais perigos para banhistas. Sem acesso ao mar, os estudantes desenvolveram um protótipo em 3D utilizando a placa Arduino, simulando correntes de retorno em um aquário.

“O sensor detecta mudanças na intensidade da água e aciona um alarme para alertar salva-vidas sobre áreas perigosas”, contou Christian da Silva Costa, 14 anos. A ideia pode salvar vidas ao fornecer informações essenciais para evitar afogamentos.

Embora não tenham avançado para a etapa nacional, as experiências dessas equipes mostram como a ciência e a tecnologia podem ser aplicadas para resolver problemas reais, independentemente da localização.


Caminho para o nacional

O Sesi-MA será representado na competição nacional por Unimate, Gipsy Danger e Dracarys (de São Luís), além da Robotics Angels (de Imperatriz). Também participam da First Lego League Challenge (FLLC) as equipes Quanta e Fídia, do Projeto Prototipando Sonhos, a maior iniciativa privada de democratização do ensino de robótica no Brasil.

Jovens cientistas contribuíram com a proteção dos mares (Foto: Divulgação)

O evento conta com a participação de 20 equipes na modalidade F1 in Schools e 102 equipes na FLLC. Entre elas, 56 pertencem a escolas públicas municipais e estaduais que integram o Projeto Prototipando Sonhos, uma ação do Sesi em parceria com o governo do estado, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema).


Reconhecimento eimpacto

A jornada da robótica no Maranhão vem se destacando nacionalmente. Rosi Carvalho, líder do Comitê Nacional de Avaliações da First Lego League Challenge, destacou que o estado, que começou com projetos tímidos, hoje é referência em competições nacionais e internacionais.

“O evento realizado pelo Sesi-MA se tornou um case de sucesso, unindo escolas públicas e privadas em uma jornada que vai além da robótica, promovendo o pensamento crítico, o empreendedorismo e a inovação”, afirmou.

Além disso, a Fapema investiu R$ 1 milhão no pagamento de bolsas de iniciação científica para os participantes e técnicos de robótica. Isaura Moreira Lima Modesto, coordenadora de Inovação e Empreendedorismo da fundação, destacou que a parceria impulsiona a pesquisa e contribui para o desenvolvimento social e econômico do estado.


Ciência, educação e um futuro sustentável

A conexão entre educação, tecnologia e meio ambiente tem despertado o interesse de especialistas. Ronaldo Christofoletti, professor da Unifesp e embaixador da temporada Submerged na Unesco, participou do torneio no Maranhão e elogiou a iniciativa. Segundo ele, os projetos demonstram como discussões globais sobre sustentabilidade podem ser aplicadas em nível local, gerando impacto real.

“Esses jovens estão mostrando que a ciência pode transformar o mundo. Mesmo sem contato direto com o oceano, eles desenvolveram soluções criativas e funcionais. Pretendo levar essas ideias para outras iniciativas acadêmicas e ambientais”, declarou Christofoletti.

Com apenas cinco edições do torneio, o Maranhão já se tornou um referencial nacional em robótica educacional. O impacto da iniciativa ultrapassa as competições e abre portas para um futuro onde a tecnologia e a sustentabilidade caminham lado a lado.