Médica é indiciada por suspeita de mandar matar o marido

Acusada teria contratado pistoleiros para cometer o crime, que ocorreu em 18 de setembro de 2024.
Médica indiciada por suspeita
Daniele é suspeita de mandar matar o marido, o advogado José Lael (Foto: Reprodução)

A Polícia Civil de Sergipe indiciou a médica Daniele Barreto, que foi presa sob suspeita de ter encomendado o assassinato do marido, o advogado José Lael de Souza Rodrigues, de 42 anos, ocorrido em setembro de 2024.

Além de Daniele, outras seis pessoas foram formalmente acusadas de duas práticas criminosas: homicídio duplamente qualificado pela morte de José Lael e tentativa de homicídio qualificado, já que o filho do advogado, Guilherme Rodrigues, também foi atingido no ataque, mas sobreviveu.

A Polícia Civil também solicitou à Justiça a conversão da prisão temporária dos suspeitos em preventiva, visando a transferência dos detidos para o sistema prisional de Sergipe. A denúncia foi encaminhada ao Ministério Público do Estado, que dará continuidade ao processo.

Relembre o caso

O crime ocorreu em 18 de setembro de 2024, quando José Lael, advogado criminalista, foi morto por dois homens que se aproximaram de seu carro enquanto estavam em uma motocicleta e dispararam contra ele. O filho da vítima, Guilherme, de 20 anos, estava no veículo e foi ferido, mas conseguiu sobreviver.

A família estava a caminho de comprar um açaí, a pedido de Daniele, conforme relatado pela delegada Juliana Alcoforado. As vítimas foram perseguidas logo após deixarem o prédio onde moravam.

A investigação revelou que imagens de câmeras de segurança mostram a esposa de José Lael e sua amiga em um bairro periférico, onde supostamente teriam contratado os pistoleiros.

No dia do crime, tanto a amiga quanto a secretária de Daniele estavam na mesma área e receberam os dois criminosos responsáveis pela execução. A delegada afirmou que, após essa análise, ficou claro o envolvimento da acusada e de outras pessoas no homicídio.

Daniele Barreto é uma cirurgiã conhecida em Sergipe e tem mais de 140 mil seguidores no Instagram. Ela solicitou à Justiça a prisão domiciliar alegando ter um filho menor de idade, e nega qualquer envolvimento no assassinato de seu marido.

Carta revela violência

Em uma carta de 12 páginas escrita à mão, Daniele detalha abusos sexuais, físicos, patrimoniais e psicológicos sofridos nas mãos de José Lael ao longo de vários anos, além de possíveis tráficos de armas e envolvimento em homicídios.

Segundo seu relato, ela apanhava frequentemente, recebendo tapas, murros e puxões de cabelo. Em um dos trechos, ela conta que, para não deixar marcas em seu corpo, José Lael a amarrava e arrancava tufos de cabelo. O advogado também teria instalado câmeras escondidas no quarto para monitorá-la e gravado estupros, com o objetivo de assistir às imagens posteriormente.

Daniele entregou à sua defesa dois vídeos como provas. Em um deles, a médica aparece dopada em sua cama, inconsciente, enquanto José Lael a violenta sexualmente. Em outro vídeo, Daniele olha para a câmera e diz: “Acabei de apanhar dele. Ele está me ameaçando. Meu rosto está vermelho.” Nesse momento, o advogado aparece ao fundo tentando impedir a gravação.

As cartas e os vídeos serão anexados ao processo pela defesa de Daniele nesta semana.

Em depoimento, Daniele negou ter encomendado o crime e acusou José Lael de fraudar processos, o que teria gerado uma dívida de cerca de R$ 1 milhão em pensão atrasada. Ela também alegou que o marido tomou um empréstimo de R$ 100 mil em nome de sua mãe, Luiza Cristina Barreto Oliveira, sem autorização.

Outros depoimentos reforçam as acusações contra José Lael. Matheus Aniel de Jesus, ex-estagiário do criminalista morto e estudante de Direito, afirmou que o advogado cometia crimes financeiros e processuais, incluindo golpes em clientes.

Segundo Matheus, de 30 anos, seu ex-patrão costumava receber dinheiro de presos para acompanhamento de execuções penais, mas os enganava. Em um dos casos, Lael teria dado um golpe de R$ 30 mil em um criminoso conhecido como Rafa Boy.

A polícia mantém Daniele como a principal suspeita do crime. Para os investigadores, as evidências mais contundentes são as imagens que mostram ela, uma amiga e sua secretária — que seria sua namorada — no bairro onde os pistoleiros contratados moravam. As três foram vistas na região poucos dias antes do crime e, no dia do assassinato, estariam em um carro que deu suporte aos atiradores.

Daniele e Lael estavam separados, apesar de dividirem o mesmo teto. O casal tinha um filho de 12 anos. Ambos teriam usado o nome da criança para abrir uma conta bancária e ocultar cerca de R$ 12 milhões de credores. A médica também enfrenta processos de danos morais movidos por ex-pacientes insatisfeitos com seus procedimentos estéticos.

Em sua carta, Daniele detalhou fraudes financeiras que atribui ao ex-marido, incluindo a falsificação de documentos para contrair 15 empréstimos no Banco do Brasil e a utilização de cartões de crédito em seu nome sem autorização. Ela também relatou que Lael estava envolvido em tráfico de armas e homicídios, tendo participado de transações ilegais que resultaram na morte de um preso recém-libertado. Em outro episódio, Lael foi preso em Jequié por dirigir um carro clonado. Segundo Daniele, ele costumava portar armas de fogo e apontá-las para seu rosto durante brigas.

No dia do crime, Lael saiu com o filho, Guilherme Rodrigues, de 20 anos, para comprar um açaí a pedido de Daniele. Assim que deixaram o prédio, foram perseguidos por dois homens em uma motocicleta. Lael foi morto a tiros dentro do carro, enquanto Guilherme foi ferido, mas sobreviveu.

Imagens de câmeras de segurança indicam que o crime foi cuidadosamente planejado, com os envolvidos circulando pela área momentos antes do ataque.

Com informações do UOL e O Globo