O auditório lotado do Convento das Mercês, em São Luís, não foi apenas cenário de um evento literário. Foi também palco de um encontro simbólico entre palavras, história e resistência, em mais uma edição do projeto Conversações de Além-Mar. O escritor angolano Pepetela, Prêmio Camões de 1997, trouxe ao público maranhense mais do que reflexões sobre sua obra: ofereceu um testemunho de vida, de luta e de como a literatura pode ser extensão da própria história de um povo.
Filho direto da luta pela independência de Angola, Pepetela não escreve sobre a guerra — ele escreve a partir dela. Suas palavras carregam o peso dos processos históricos que atravessaram seu país, mas também dialogam com dilemas universais: desigualdade, memória, identidade, cultura e humanidade.
Durante o evento, mediado pelo advogado e poeta Daniel Blume e pela professora Jaqueline Demétrio, o escritor conversou sobre passagens marcantes de sua biografia, que inclui não apenas os anos na guerrilha pela libertação angolana, mas também décadas dedicadas à literatura e à reflexão sobre os rumos da sociedade pós-colonial.
Entre os temas que atravessam sua obra, estão as contradições do poder, as marcas do colonialismo e as feridas da desigualdade. Obras como Mayombe, A Gloriosa Família e A Geração da Utopia são peças fundamentais para compreender não apenas a literatura angolana, mas também os desafios de qualquer sociedade marcada pela violência histórica.
Na ocasião, Pepetela lançou seu novo livro no Brasil: “Tudo Está Ligado”, uma narrativa que, como sugere o título, reafirma seu olhar crítico sobre as conexões — visíveis e invisíveis — que moldam o mundo contemporâneo.
A noite foi mais do que um evento literário: foi uma travessia. E, como toda travessia, ofereceu ao público maranhense a chance de pensar sobre a própria história, sobre as semelhanças entre os povos e sobre a potência que existe quando palavras são transformadas em memória viva.